“É preciso toda uma aldeia para educar uma criança.”
Provérbio Africano
O espaço escolar ensina, seus cheios e vazios, são parte do currículo oculto da escola e influenciam diretamente na qualidade da educação ali praticada. A escolha dos materiais, das proporções, das relações entre os ambientes, pode ensinar sobre sustentabilidade e também sobre afetividade, inclusão e cooperação.
O modo como a edificação escolar está implantada no território diz muito sobre a concepção de educação e cidade daqueles que a propõem, se atrás de altos muros, de costas para o bairro ou se integrada em suas tramas, em sintonia com o entorno.
Optamos pela integração, pelo diálogo, pois acreditamos que esta experiência de conexão dentro-fora proporciona aos estudantes a possibilidade de territorializar seu processo educativo e respectivas competências de aprendizagem propostas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Pensamento crítico e criativo, argumentação, empatia e cooperação, entre outras competências, terão mais potência em ambientes integrados e integradores.
O desenvolvimento integral, um dos objetivos da BNCC, depende da qualidade da infraestrutura e da integração da escola com o território onde está implantada.
A cidade educadora depende da formação de uma rede de serviços onde não só a escola, mas os demais equipamentos públicos assumem o caráter de espaços educadores.
Nossa proposta optou por explorar todas estas dimensões, que esta escola seja exemplo de um espaço educador sustentável, e colabore para a melhoria da qualidade da educação e da vida na cidade.
Se como diz o provérbio africano acima, é preciso toda uma aldeia para educar uma criança, o desenho da escola na aldeia faz parte desta proposição.
Proposta apresentada para o concurso público nacional de projetos realizado pela CODHAB / DF.
O programa de necessidades é organizado em três platôs para aproveitar de maneira mais racional a topografia do terreno e distribuídos em edifícios de dois pavimentos em forma de “lâminas” conectadas em pontos estratégicos, pelo auditório, banheiros, sala de leitura, sala de recursos, quadra poliesportiva e circulação (corredores, rampas e escadas), formando 2 pátios descobertos e 1 coberto (protagonistas do edifício). Como uma gentileza urbana doamos parte do lote destinado a ocupação do Centro Educacional (CED) para criar um centro comunitário de fruição urbana com praças de estar e de conexão entre a comunidade e a escola, quebrando a barreira criada ao acesso de pedestres pela grande dimensão da quadra onde o lote do CED está inserido.
A quadra poliesportiva e o pátio ambos cobertos poderão em momentos especiais serem ocupados por festas e eventos da comunidade, onde o acesso a quadra é integrado diretamente com uma das praças propostas. Os pátios descobertos serão um cuore-brincante para todas as faixas etárias atendidas no CED poderão conviver e aprender mutuamente. Os generosos corredores de acesso e conexão funcionam como bolsões de áreas de estar coloridas que se tornam extensões da sala de aula, que poderão abrigar exposições, com vista para os pátios, uma trilha lúdica que alinhará todos os espaços do CED, oportunizando que as crianças, adolescentes e adultos que ali irão conviver diariamente sintam-se não só acolhidos, mas protegidos e desafiados a conquistar cada cantinho do Centro Educacional.
Na conexão e vencimento dos desníveis entre os edifícios optou-se por uma estrutura metálica de cor alaranjada revestida de telha metálica perfurada, que além de ser um elemento forte de identidade visual e de proteção térmica, também servirá de mirante para observar o que se passa dentro e fora do CED.
Pois a verdadeira escola é a aldeia, é o bairro, o bairro-escola, nossa casa comum. Até os educadores, funcionários e familiares terão seus espaços de encontro e de descanso.
Os espaços externos terão a mesma importância que os internos, e, além de atender as especificidades de cada turma e cada segmento do CED, estamos propondo espaços de encontro, de convívio, que para nós é a essência do processo educativo. Os espaços estão propostos de modo a que se explorem as múltiplas linguagens fundamentais para nossa formação desde pequenos.
Apesar de propormos uma estrutura limpa e de fácil montagem, pontilhamos cada canto com detalhes que despertam a todos o desejo a se apropriarem deste território na sua totalidade. Um CED ocupado e cuidado pelo coletivo, inclusive pela comunidade.
Pois nossa proposta é que as áreas externas / pátios e quadra da CED possam se disfrutadas por todo o bairro em momentos apropriados. Neste sentido o projeto de equipamentos e paisagismo serão primordiais na constituição das demais disciplinas. Horta, composteira, parque infantil / árvores frutíferas, ervas medicinais, entremeados por áreas de estar, painéis artísticos, brinquedos acessíveis, inovadores, feitos por artesãos locais, desafiam os pequenos cientistas e potentes artistas a se expressarem e interagirem como sujeitos que são, produtores de cultura, cheios de vontade.
Com este projeto queremos contribuir para que o CED ultrapasse suas barreiras e se esparrame pela comunidade do entorno como uma pedagogia expandida, contribuindo para que o Bairro Crixá seja um bairro educador, amigo da infância e da adolescência.
SISTEMA CONSTRUTIVO
A estrutura pré-fabricada de concreto se mostrou mais adequada para atender os anseios do edital quanto a facilidade, agilidade construtiva e baixa manutenção, além de possibilitar a produção racionalizada e industrializada das mesmas. Por isso optamos por este sistema nos edifícios principais, sendo utilizados estrutura metálica apenas nos elementos de conexão, circulação vertical e cobertura de grandes vãos, tais como a quadra poliesportiva e pátio coberto.
Os elementos da estrutura pré-fabricada de concreto foram pré-dimensionados para os vãos usuais das escolas que utilizam deste sistema e são as seguintes:
- Pilares Externos: 30 x 60cm;
- Pilares Internos: 30 x 30cm;
- Lajes Alveolar: 20 cm;
- Vigas: 30x60cm.
O engastamento entre os pilares e os blocos de fundação é feito através de embutimento do pilar em cálice deixado no bloco de fundação. Entre peças pré-fabricadas da superestrutura, as ligações solidarizadas são feitas através de luvas inseridas nos pilares e chapas embutidas nos consolos e vigas, soldadas entre si. A lajes alveolares são apoiadas nas vigas de extremidade e são contínuas nas centrais através da utilização do capeamento estrutural.
Na estrutura metálica optamos por utilizar pilares e vigas modulares tipo perfil “I” parafusados projetados para fabricação industrial e seriada, de preferência, levando a um menor tempo de fabricação e montagem. Na cobertura da quadra e do pátio coberto por conta do grande vão utilizamos uma estrutura mista de treliça metálica plana x viga vagão de aço cobertas por telhas metálicas (modelo trapezoidal) termo acústicas e telhas de policarbonato, para a passagem de luz natural. Sua fundação será de concreto, e as lajes das circulações serão tipo Steel Deck melhor adaptadas a este tipo de sistema estrutural. Nas coberturas sobre as lajes alveolares dos edifícios em estrutura pré-fabricada de concreto receberão proteção de telhas metálicas (modelo trapezoidal).
As alvenarias serão de bloco de concreto revestidas e pintadas na cor de acordo com o estudo cromático definido, as alvenarias foram planejadas para minimizar os entulhos na obra. As estruturas metálicas da circulação receberão proteção de telhas perfuradas (modelo trapezoidal) que terá a função de proteção térmica das salas criando um colchão de ar (sistema respirante). No pátio descoberto do acesso principal da escola haverá uma alvenaria revestidas de azulejos 15x15cm determinada para um painel artístico, fazendo uma referência aos painéis de azulejos de Athos Bulcão que “realçaram” a arquitetura moderna de Brasília.
As esquadrias serão modulares de alumínio com vidros temperados incolores de pequenas dimensões (para manutenção de baixo custo), todas as salas de aula terão aberturas em fachadas opostas, permitindo a ventilação cruzada e a renovação adequada do ar interno. As folhas das portas deverão ser executadas em madeira compensada, semi-ôca, revestidas com laminado melamínico de 1mm, os pisos serão de cimento queimado, granilite nas áreas internas e piso drenante nas áreas externas, nas praças serão utilizados piso Intertravado de concreto alternado com cimento desempenado.
DIRETRIZES DE SUSTENTABILIDADE
CAPTAÇÃO DE ENERGIA SOLAR: A região favorece o aproveitamento da energia solar por conversão em energia térmica e poderá atender boa parte das necessidades da CED. Sugerimos a captação de energia através de placas fotovoltaicas tipo GRID – TIE que é um sistema interligado a rede elétrica, quando o consumo for até igual ao valor gerado pelo sistema de energia solar o sistema utilizará essa fonte de energia e o excedente passa para a concessionária em forma de bônus. A noite quando não há geração ou mesmo durante o dia quando a produção for menor que o consumo, a utilização da energia passa a ser da rede da concessionária descontando dos bônus acumulados, ou, cobrança normal no caso de acabar o bônus. Desta forma o CED diminuirá a utilização da energia cuja geração é através de força de água, termoelétrica ou nuclear que agridem o meio ambiente.
REÚSO DE ÁGUAS PLUVIAIS: As captações de águas pluviais serão através dos telhados da CEF, folhas, galhos e resíduos sólidos presentes na área do telhado será separado através de caixas de britas localizados na base de cada condutor vertical, as águas serão encaminhadas através de condutores enterrados para o reservatório de água de reuso localizado na cobertura ao lado do reservatório de água potável. Esta água será usada nas bacias sanitárias, mictórios, torneira de uso geral e torneiras de jardim.
Dados do Projeto:
Projeto: 2018;
Área de intervenção: 9.500,91m²;
Área construída: 6.600,00m².
Ficha Técnica:
Autores: Sergio Faraulo e Frederico Zanelato.
Colaboradores: Luane Ribeiro, José Pedro Palhares, Ariel Castrezano e Gabriela Almeida.
Consultoria em Arquitetura Educacional: Beatriz Goulart;
Consultoria em Engenharia Estrutural: Max Falcon Engenharia.